A palavra que define o reino da Bélgica no mundo cervejeiro é diversidade. Em nenhum outro país do planeta há tanta variedade de estilos cerveja. Nesse relativamente pequeno país monarquista encravado (junto com o minúsculo Grão-Ducado de Luxemburgo), norte da França, a sul da Holanda e a oeste da Alemanha, com pouco mais de 11 milhões de habitantes e três línguas oficiais (não por acaso o francês, o holandês e o alemão), a cerveja é levada muito a sério e faz parte não só do dia a dia, mas de todas as festas e celebrações. A Bélgica é a Meca dos cervejófilos, e o paraíso dos cervejeiros. Bruxelas, com seus quase 2 milhões de habitantes na região metropolitana, não é apenas a capital belga: é também capital da Comunidade Europeia e sede do Parlamento Europeu. Tanta atividade diplomática e administrativa torna os serviços e o comércio importantes na vida da cidade, valorizando os cafés, pubs e restaurantes, onde a cerveja faz parte da vida social e acompanha as conversas. Dizer que a cidade é cosmopolita e aberta soa desnecessário. Ao longo do tempo, a cerveja adquiriu importância visceral na vida e na cultura do país, e de tal forma que os cervejeiros belgas preservam com orgulho seus métodos passadistas de fermentação e o culto aos sabores exóticos e ancestrais das cervejas especiais. A Bélgica absorveu técnicas e processos de elaboração de todos os seus vizinhos, e acabou por fundi-los em uma cultura cervejeira própria — a cultura da diversidade.
Essa espécie de microglobalização fermentativa leva o país — que também produz grande parte da matéria-prima necessária à fabricação da bebida — a valer-se de flores de lúpulo importadas de Kent, na Inglaterra; de Hallertau, na Baviera; e da Boêmia, na República Tcheca. O malte vem da Normandia francesa, da Baviera, e da região tcheca da Morávia. Para reforçar, nenhuma outra nação cervejeira, por mais importante que seja, tem uma coleção tão variada de estilos, sabores e métodos de produção. Das mais conhecidas, suaves e populares — mas não menos deliciosas — Lager às exóticas e excêntricas Lambic ou Kriek (de cereja), com sabores inusitados, há de tudo um pouco.
O uso de leveduras selvagens — as mesmas que por séculos, antes mesmo de serem conhecidas, permitiam a elaboração da bebida — e de bactérias também surge como uma espécie de identidade cervejeira belga, entre algumas de suas tantas especialidades. Outras nações de grande tradição cervejeira, como a República Tcheca, optaram por definir um estilo predominante como seu cartão de visitas e de identidade no mundo da cerveja. A Bélgica, ao contrário, faz desde cervejas escuras tão intensas quanto as Ale irlandesas até Lager claras, perfumadas e lupuladas como as melhores alemãs e tchecas. De qualquer modo, os estilos de cerveja mais claramente identificados com a Bélgica são mesmo as ácidas Lambic, obtidas por fermentação espontânea; as cervejas de Abadia, como as Trapistas; e as cervejas brancas, também de trigo e aromatizadas com flores e frutas, cascas de frutas cítricas, especiarias e ervas.
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